O calão minderico na língua Portuguêsa
O calão minderico é, era, um linguajar oral de Minde.
Pensa-se que o seu uso se tenha iniciado no princípio do século XVIII por antigos cardadores e negociantes de lãs com o objectivo de esconderem as suas negociações.
É pois um código ou gíria de um grupo profissional que vivia em comunidade fechada num vale entre as serras d'Aire e Candeeiros.
Este calão é constituído por palavras e expressões que permitia aos falantes dessa comunidade falarem entre si e combinarem a estratégia de preços, de compras e vendas sem serem entendidos por pessoas estranhas ao seu negócio e assim o protegerem.
O minderico era usado por um elevado número de negociantes que deviam abastecer e vender o produto de quase duas centenas de teares nos finais do século XVIII.
Os homens iam comprar lãs e couro. Percorriam todos os sítios, mesmo longínquos, onde pudesse haver os materiais que procuravam para comprar e também para vender as mantas que as mulheres fiavam e teciam.
Nestas deslocações faziam não só as trocas de produtos como também algumas trocas linguísticas, transportavam, na ida e na volta, palavras e expressões que integravam no seu linguajar.
A evolução dos costumes, a alfabetização e os meios modernos de comunicação e informação levaram a que a língua portuguesa se uniformizasse e a que o minderico perdesse o seu uso.
Actualmente só a população adulta o conhece e alguns têm trabalhado para preservar esse património linguístico.
Leite de Vasconcelos no seu estudo sobre os dialectos da língua portuguesa incluiu também este "Calão minderico - Alguns termos do "calão" que usam os cardadores e negociantes de Minde, concelho de Alcanena".
" Jorda as meníseas ao terraisinho porque o grande juíz não tarranta." (Entrega as mantas ao homem porque Deus não dorme.)
"O terraisinho jorda cinco cédulas por uma menísea." (O homem dá quinhentos escudos por uma manta).
Algumas palavras em Minderico
abobrar - descansar;alexandrinas - fotografias;ambrosiar-pensar,cismar;albertinas - bolachas;babosas - cervejas;badelo - língua;bodelha - mentira;borboleta - luz;brancano – leite;bruxo - computador;Casal Médio - Santarém;cabaneira - vaca;campinos - melões;carranchano - amigo;fusca - noite;gargantear – cantar;
jordar – fazer, gastar, despejar, desperdiçar;latina - missa;Casal Grande - Lisboa;mioleira – testa;mirantar – ver, observar;Ninhou - Minde;nazaré - banho;
neto - dinheiro;paivante - cigarro;patarraz da ladina - genro;perneiras - peúgas;
piação - conversa;pirota - motorizada;quadrazal - mês;remexido - negócio;
renhomnhom - gaita de foles ;rinchão - comboio;rodilha - sogra;ronquinho - surdo;senhor antónio - marido atraiçoado pela esposa, corno;sesta - semana
soletra - livro;tarrantar - dormir;tece-tece - Internet;terraizinho - criança;
terraizinho judaico - Menino Jesus;tosadeira - boca;toupeira do ferreiro - charrua;videira - mãe;videiro - pai;vista-baixa - porco;zé pedro – bigode
texto retirado do site:http://expresso.sapo.pt/ da autoria de JOVIANA BENEDITO